segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Por que não sou um psicanalista (Parte 2)

Parte 2: A Clínica



2.1 Introdução

A Psicanálise surgiu na clínica. Freud construiu a Psicanálise à medida que se defrontava com casos que eram ignorados pela Psicologia e Psiquiatria da época ou apresentavam explicações que não satisfaziam o pai da Psicanálise. Não apresentavam explicações e, principalmente, tratamento. O que orgulhava Freud era que, apesar de todos os problemas e lacunas da Psicanálise (que ele reconhecia e, com razão, achava natural de toda ciência), ela era a mais eficiente de todas as psicoterapias. Ou, em suas palavras, “Comparada com outros procedimentos psicoterapêuticos a psicanálise é, fora de dúvida, o mais eficiente.” (FREUD, 1933/1976, p.187)

Mas Freud estava ciente dos problemas de se conceituar algo a partir da clínica. Da mesma forma, estava ciente que ela não poderia ser usada como confirmação segura de suas hipóteses, afinal aquilo que a Psicanálise conseguia tratar também era passível de melhora espontânea, melhora em outros tratamentos e através de placebo, enquanto ela se mostrava ineficiente diante de casos mais graves. Em suas palavras:

“Podemos citar como exemplos de distúrbios que são acessíveis ao tratamento psicanalítico as convulsões histéricas e as paralisias, bem como os diversos sintomas da neurose obsessiva (idéias e ações obsessivas). Todas elas são condições que estão ocasionalmente sujeitas a recuperação espontânea e dependem da influência pessoal do médico, de uma maneira fortuita que ainda não foi explicada. A psicanálise não tem efeito terapêutico sobre as formas mais graves da perturbação mental propriamente dita. Mas possibilitou – pela primeira vez na história da medicina – uma certa compreensão (insight) da origem e do mecanismo das neuroses e das psicoses.” (FREUD, 1913/1974, p.199)

Assim, não é em vão que Freud adotava uma postura que pode surpreender muita gente. Ao contrário da maioria dos psicanalistas de hoje em dia, Freud não achava que a clínica dizia muita coisa e acreditava que a principal contribuição da Psicanálise não era essa, mas sim a de ser uma proposta de estudo de coisas até então ignoradas, sendo suas hipóteses confirmadas ou descartadas à medida que a ciência avançava:

O futuro provavelmente atribuirá muito maior importância à psicanálise como a ciência do inconsciente do que como um procedimento terapêutico.” (FREUD, 1915/1996, p.254-255)

Talvez os senhores saibam que nunca fui um terapeuta entusiasta;” (FREUD, 1933/1976. p.185)

“Disse-lhes que a psicanálise começou como um método de tratamento; mas não quis recomendá-lo ao interesse dos senhores como método de tratamento e sim por causa das verdades que ela contém, por causa das informações que nos dá a respeito daquilo que mais interessa aos seres humanos – sua própria natureza – e por causa das conexões que ela desvenda entre as mais diversas atividades. Como método de tratamento, é um método entre muitos, embora seja, para dizer a verdade, primus inter pares.” (IBID, p.191)

Tendo a concordar com a posição de Freud, consequentemente discordando da maioria dos demais psicanalistas, e a seguir direi por que.


 2.2. Inventando mal-estares

Como mencionei brevemente em outro texto do blog (link), a clínica é um ambiente fácil para inventar mal-estares e “aprofundar” anos a fio neles. Se a Psicanálise favorece o tipo de digressões fantasiosas que comentei na Parte 1 (link), isso tem uma conseqüência direta na clínica.

A Psicanálise estabelece como objetivo de sua clínica coisas vagas como “aceitação da castração”, “travessia do fantasma”, “dar-se conta que o Outro é castrado sem, com isso, tamponar a própria falta”, “retificação subjetiva”, entre outros. Estou ciente que cada um destes termos quer dizer algo e não é uma ordenação de palavras sem sentido, mas sem dúvida são conceitos ambíguos e vemos reflexo disso na própria discordância entre analistas.

Soma-se a isso a idéia de “estrutura”, atualmente predominante na Psicanálise, que pressupõe que, grosso modo, a partir de um determinado momento o sujeito adquiriu um funcionamento básico que jamais vai se alterar [1]. Isto faz com que psicanalistas frequentemente conduzam sua prática focando o sujeito “aceitar” diversas coisas, trabalhando com a conformação do sujeito de que ele é assim mesmo e tem de aprender a lidar com sua dura realidade.

Oras, em algumas circunstâncias sem dúvida é importante trabalhar a “aceitação”: um deficiente físico tem de lidar com suas limitações decorrentes; alguém que teve um AVC terá inevitavelmente de lidar com as possíveis dificuldades de fala que terá daí em diante; pais de um filho com comprometimentos severos terão de lidar com sua frustração; dentre outros. Mas não é assim na maioria dos casos, sendo extremamente danoso pressupor funcionamentos inalteráveis quando isso simplesmente não existe e o cliente poderia se beneficiar muito de um terapeuta competente que o auxiliasse não apenas em compreender as causas de seu sofrimento, como trabalhar de modo a modificá-las.

É não apenas danoso como também doloroso para o cliente. Mas vejo frequentemente psicanalistas adotando – e consequentemente transmitindo a seus clientes – algo que é quase uma moral cristã, de que “o sofrimento é necessário”,  “a escolha mais difícil e dolorosa é a melhor” e coisas afins, quando frequentemente não é o caso.


O que nos leva ao próximo ponto, que é a tão difundida idéia na Psicanálise de “responsabilizar o sujeito”. Novamente, sem dúvida em alguns contextos isso é importante, fazendo com que arque com as conseqüências de suas ações. Colocando em termos analítico-comportamentais (já que boa parte de meus leitores são analistas do comportamento), é tornar o sujeito sensível às conseqüências de seu comportamento, especialmente às conseqüências danosas de comportamentos disfuncionais [2], de modo que estas conseqüências atuem sobre a probabilidade de respostas futuras do sujeito (frequentemente é um caso de “bloquear a esquiva”).

Mas esta idéia de “responsabilizar o sujeito” também carrega consigo algo fictício e, na maioria dos casos, muito prejudicial: a idéia de que algo surge do sujeito, que parte de dentro dele, pressupondo um fictício eu iniciador e livre-arbítrio. Não ficam, assim, atentos a que contextos produzem isso pelo qual querem “responsabilizar o sujeito” e, consequentemente, não agem de modo a modificá-los, engajando em lamentáveis atitudes de culpabilização, sem se atentar que ele não é nem iniciador de suas ações, nem passivo diante do mundo, mas fruto de relações com o mundo [3].

Lacan criticou certa vez a psicoterapia em detrimento da Psicanálise, dizendo que "não que ela não faça algum bem, mas conduz ao pior" (LACAN, 1981/1993, p.26). Pois, dado tudo que venho apontando, a conclusão inevitável é dizer o mesmo da Psicanálise: não que ela não possa fazer algum bem, mas conduz ao pior.



2.3. Mas isso tudo não é um problema de analistas e não da Psicanálise?

É verdade que tudo isso que apontei varia e podem existir analistas que não incorrem em nenhuma destas besteiras, assim como profissionais de outras abordagens que fazem todas elas. Como Freud observou, muitas outras coisas parecem estar em jogo na clínica e ela parece depender muito do terapeuta.

Acredito, no entanto, que uma boa teoria favorece a prática e potencializa o bom profissional. Peguemos como exemplo o Xamanismo e a Medicina.  Um xamã pode ser tão bom quanto, ou até muito melhor, que um médico incompetente. Através da sabedoria popular pode conhecer maneiras muito eficientes para lidar com a cicatrização de ferimentos, dores de barriga, dores de cabeça, febres e outras coisas, que um médico incompetente pode não apenas falhar em diagnosticar corretamente e tratar, como piorar a situação. No entanto, sem dúvida, um bom médico conseguirá ser melhor que um bom xamã, pois a Medicina fornece descrições e prescrições mais eficientes para lidar com as doenças.

Assim, não é legítimo psicanalistas esquivarem destas críticas apontando que dizem respeito a analistas e não à Psicanálise, pois, como acredito ter apontado, esta sem duvida tem facilitado – vou além, favorecido – que isso ocorra. Psicanalistas devem não apenas ficar atentos às suas práticas para evitarem isso, mas também procurar aprimorar a Psicanálise de modo que sua teoria evite essas bobagens.

Retomando a analogia do Xamanismo e da Medicina, se o Xamanismo pode ser tão bom quanto a Medicina para mal-estares vagos ou coisas usualmente mais simples – que justamente dependem muito de outros fatores que não a qualidade/veracidade da teoria -, um xamã sábio possivelmente seria o primeiro a admitir que em casos mais graves, como uma varíola ou febre tifóide, é melhor recorrer à Medicina.

Difícil não lembrar assim de Freud, que admitia que a Psicanálise não tem efeito sobre “as formas mais graves de perturbação mental” (como mencionado no começo do texto). E de outros tantos psicanalistas que dizem que, para algumas coisas, como o autismo, de fato recomendam a Análise do Comportamento.

Só uma coisa pra se pensar...



Notas:

[1] Justiça seja feita, Freud jamais falou em estrutura e o próprio Lacan parecia falar exclusivamente de estruturas clínicas, ou seja, um pressuposto útil para a prática clínica, tendo a neurose, perversão e psicose como generalizações de funcionamentos similares que auxiliam nas intervenções clínicas. Fora da clínica, ninguém seria, per se, neurótico, perverso ou psicótico. Além disso, no final de sua obra ele pára de falar de estrutura e passa a falar de “Nós”, falando de coisas como “foraclusão generalizada”, que dá a entender que não existe essa de funcionamentos exclusivos de cada estrutura. Isso é que vai dar margem para outros conceitos e abordagens, como a “clínica universal do delírio”, um divertidíssimo joguete de palavras com o termo “delírio”. Seja como for, apesar de Freud e possivelmente Lacan, essa visão estruturalista é a predominante na Psicanálise hoje.

[2] Para analistas do comportamento não implicarem: estou ciente de que não existem, rigorosamente falando, "comportamentos disfuncionais", já que todo comportamento tem uma "razão de ser": é mantido pelas consequências passadas ou presentes. No entanto, acredito ser um termo útil e mais fácil para pessoas de outras abordagens compreenderem do que ficar explicando isso.


[3] Freud também rejeitava um eu iniciador, no sentido de um agente causador das ações mas ele mesmo sem causa, enfatizando que todo o funcionamento psíquico do sujeito é fruto de suas experiências. Também era um determinista convicto e rejeitava a idéia de livre-arbítrio (para ambas as rejeições vide, por exemplo, Conferência II: Parapraxias, em FREUD, 1916/1996). Mas sabemos que entre o que Freud pensava e o que os psicanalistas fazem há um grande abismo...

Referências Bibliográficas:

FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume XX. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1996

FREUD, Sigmund. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud: Volume XIII; Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974

FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume XXII. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1976

FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Volume IX. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1996


LACAN, J. Televisão. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1993

45 comentários:

  1. Gostaria imensamente q vc comentasse, Pedro, o que o Dr Caio Miguel fala nessa entrevista:

    http://www.comportese.com/2011/08/entrevista-exclusiva-prof-dr-caio.html

    Me refiro a esse trecho em especifico:

    "Isso pra mim, significa que o analista do comportamento clínico e o psicanalista são funcionalmente equivalentes – se a população/consumidor não vê a diferença, é porque não deve ter diferença. Eu, particularmente, não vejo diferença alguma, e olha que eu tenho muitos colegas trabalhando com RFT e ACT".

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  2. [...]"dar-se conta que o Outro é castrado sem, com isso, tamponar a própria falta". Lembro marcadamente de um artigo SEU que tinha essa frase. Huehuehuehue. Qualquer frase que tenha o bendito Outro no meio tem grandes chances de ser uma belíssima frase vazia, vai reparando.

    Muito boa a pontuação ao fato de que "são os psicanalistas e não a Psicanálise" é um argumento bem tosco. Então "a Psicanálise" é o que, se não a prática de uns e outros? Só reflete a falta de um eixo coerente que eles próprios reconheceriam se não estivessem tão ocupados em se esquivar do debate. Esse argumento já me irritava demais quando eu gostava de Psicanálise.

    Recebi, aliás, por e-mail exatamente este comentário de uma psicanalista sobre o seuprimeiro texto. "Ah, mas são os analistas. Não é a Psicanálise". Esta se coloca como um troço tão inatingível que nem os psicanalistas a praticam, afinal, cada um tem "sua psicanálise". Que coisa de doido, viu...

    Quanto à entrevista do Caio que o Alessandro citou acima, eu tenho minha polêmica parte de mim que concorda inteiramente com ele e outra que discorda, mas como não é o foco da discussão, deixa pra outro momento. :)

    Parabéns, novamente, pelo texto. E espero que não tenha desistido dos planos de enviar a monografia pras editoras depois da ABPMC. ABPMC já foi há eras atrás... tá na hora :)

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    1. Pau no cu da Aline Couto. Essa chata se acha A Behaviorista privilegiada mas não tem modos para lidar nem com aqueles que estão mais próximos. Vá se tratar primeiro, depois meta-se a atender

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  3. Isso não é um texto de blog, é um soco no estômago.

    Brilhante.

    Gostei ainda mais do que a Parte 1, mas talvez porque eu seja mais afeito à clínica do que às questões metodológicas.

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  4. Concordo com quase tudo deste texto e estas questões também me afligem. Mas lamento pelo título do texto já que, a meu ver, os problemas que aponta não são razões para abandonar a psicanálise, mas torná-la melhor.

    É curioso notar que ao perceber estes problemas diversos na psicanálise tenha sido atraído justamente para a Análise do Comportamento, com sua promessa de cientificidade e, consequentemente, de "completude".

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  5. Ih... vai começar esse papo de "aceitar a falta" de novo?

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  6. Excelente post ! Achei melhor que o primeiro também. É impressionante constatar em que a Psicanálise se transformou com o passar dos anos, apesar de seu próprio fundador ter sempre adotado um posicionamento cético e cauteloso.

    E é mais impressionante ainda como as idéias de "ciência" ou "cientificidade" estão associadas com esse papo de "completude" ou "certezas absolutas"... De onde se tira isso ? Apesar de ter os meus palpites, admito que é um questão muito complexa e merece mais investigação.

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  7. Eu discordo em quase tudo da leitura que você faz da teoria psicanalítica.

    Discordo do sentido fatalista que você dá às "estruturas" em Psicanálise. Mesmo que Lacan ou qualquer psicanalista defenda ou tenha defendido que se alguém nasce neurótico ele permanece neurótico (e nem sei se isto é uma leitura correta da teoria), daí concluir que a pessoa não pode mudar, melhorar ou se tornar mais feliz, vai uma distância muito grande. Seria como se eu dissesse que, pelo fato de você jamais poder deixar de ser o Pedro, você está fadado a não poder jamais mudar a sua pessoa. Você pode mudar a sua pessoa e mesmo assim continuar a ser o Pedro, assim como pode mudar a sua pessoa e continuar a ser neurótico. Eu não estou aqui defendendo esta teoria da estruturas, estou apenas dizendo que sua crítica a ela não é pertinente.

    Sobre a questão de o sofrimento ser necessário, esta é uma questão bastante filosófica. Não acho que o sofrimento seja necessário, acho que, muitas vezes, é preciso aprender a sofrer e a suportar o sofrimento sem sair pela tangente. Muitas complicações surgem quando as pessoas são sabem fazer isso. Também leio muita coisa sobre o budismo, e eles dizem que o sofrimento pode ser eliminado a qualquer instante, que o sofrimento não é necessário, etc. Bem, eu gostaria realmente que eu pudesse eliminar meu sofrimento apenas com um ato de vontade, e gostaria de poder ensinar isso a meus clientes também. E, concordo que a Psicanálise não nos ensina a fazer isso. Mas, se você conhece alguma forma mágica, por favor compartilhe com a humanidade e nos livre do sofrimento. Você cumprirá a promessa que Jesus Cristo jamais cumpriu. Enquanto este segredo mágico não nos é revelado, eu fico com Jung que diz que a única maneira de superar o sofrimento é aprender a suportá-lo.

    Sobre a questão da responsabilidade do sujeito, isso não tem nada a ver com "eu iniciador". Isso é leitura de vocês, analistas do comportamento. É evidente que o sofrimento surge num contexto com o mundo. A responsabilidade do sujeito está ligada ao fato de que a MUDANÇA deste contexto é responsabilidade dele. Afinal de contas, quem não acredita nisso não pode ser psicoterapeuta, de nenhuma linha. O pressuposto de qualquer psicoterapia é que a mudança é responsabilidade do sujeito, e que, portanto, as CAUSAS de seus problemas podem ser operadas por ele mesmo. E se as causas de seus problemas podem ser operadas por ele mesmo, estas causas são ACESSÍVEIS a ele; e, se são acessíveis, estão RELACIONADAS a ele, de uma forma ou outra; e, se estão relacionadas a ele, estão estas causas são SUBJETIVAS, uma vez que 'subjetivo' quer dizer 'relacionado ao sujeito'.

    Se os problemas são causados na relação com o mundo, isto não quer dizer que eles não sejam subjetivos. E são subjetivos na medida em que SOMENTE o próprio sujeito pode intervir sobre eles. Isso, evidentemente, na medida em que estivermos falando de PSICOTERAPIA.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Interessante que vc começa dizendo que discorda de quase tudo, mas fiquei com a impressão de que basicamente confirmou a maior parte. Talvez vc não concorde com a sensação que apontar defeitos da psicanálise lhe causa.

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  8. Parabéns pelo texto Pedro.


    Quanto a questão da mudança apontada por Daniel Gratinetti. De fato a estrutura se refere a um modo de funcionamento estável como apontado por Pedro. Mas a mudança ocorre, não no nível estrutural, mas no nível simbólico, pela ressigninificação que o sujeito faz das suas associassões (Eu não sei a que fenômenos eles se referem quando utilizam esses termos pois não são operacionalizados. Posso apenas fazer algumas inferências.). Agora eu pergunto: para que falar em esuturas se lidamos com fenômenos dinâmicos? Além disso, qual o tipo de mensagem que se veicula quando rotulamos pessoas como neuróticas, psicóticas e perversas? Estigmatiza-se pessoas por conta de estruturas, que se quer tem evidências a seu favor, e legitima-se um tratamento diferencial por conta das mesmas.

    Daniel, quanto ao sofrimento, parece que Pedro está salientando a diferênça entre a mera aceitação de que o sofrimento faz parte da vida e a compreensão e, mais importante, a intrumentalização do cliente para que ele possa modificar as contigências que lhe causam sofrimento. Além disso, o sofrimento pode ocorrer, mas não é necessário para a mudança. Existem formas de mudar sem sofre. Acredito que o metodo de ensino sem erros seja um bom exemplo.

    Por fim a questão da responsabilidade.
    "É evidente que o sofrimento surge num contexto com o mundo. A responsabilidade do sujeito está ligada ao fato de que a MUDANÇA deste contexto é responsabilidade dele."
    Essa sua colocação me parece contraditória. Primeiro você reconhece que o sofrimento surge em um contexto com o mundo (poderia dizer em interação?) e depois foca no sujeito, ignorando os outros elementos. Pois veja. Se o sofrimeto, assim como a solução para o mesmo, surge na relação do sujeito com o mundo, então não podemos colocar as causas apenas no sujeito, pois se e o mundo não dispor das condições que transformem o que é potencial em dinâmica, o sujeito não muda. Nesse sentido, o sujeito não é o único responsável. O terapeuta, antes do sujeito, deve ser responsável por conhecer as consequências do seu trabalho (isso idealmente). Se a terapia não dá certo é porque o terapeuta foi ineficaz em estabelecer as condições que desenvolvensem responsabilidade no sujeitos, além de torná-lo apto a atuar no mundo de forma mais efetiva, evitando sofrimento e acessando consequências que o deixem 'feliz' (rss).

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  9. Pedrão, cara, parabéns pelo texto! Quando toda a série estiver completa quero fazer um post de divulgação.

    Assim como o Alessandro, eu gostaria de ver comentários seus sobre a fala do Dr. Caio Miguel a respeito da Psicanálise e AC.

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  10. Escrevi uma resposta IMENSA aqui a todos vcs, mas na hora de enviar deu erro e PERDI TUDO.

    Tenho certeza que vcs sabem o quão frustrante isso é. Estou tendo até respondentes aqui. rs

    Por isso, não vou reescrever tudo agora, mais tarde faço isso.

    Abraços

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  11. Vamos lá... Vou tentar resumir o que eu havia escrito anteriormente e perdi tudo. rs


    Alessandro: Tenho discordâncias com algumas colocações do Caio nesta entrevista, mas não tantas com este trecho em particular.

    Porque ele diz isso ao falar que temos ocupados nichos onde não temos vantagem aparente sobre demais abordagens, que é o caso da psicoterapia. Concordo parcialmente: acho que é virtualmente inquestionável a superioriedade das abordagens comportamentais no tratamento de diversos casos como fobias, transtornos ansioso, TOC, "autismo" e outros.

    Mas estes são a minoria que procura serviços de psicologia, especialmente consultório particular. E esta maioria de fato não sabe distinguir-nos e, como a própria AC ensina, isso tem uma razão: para haver discriminação tem de haver reforço diferencial. Parece que não está tendo.

    O motivo pelo qual acredito que isso ocorre é que com relação a esta maioria dos casos e o ambiente clínico, estamos em condições muito similares aos demais psicoterapeutas: tateando no escuro.
    *prepara para levar pedradas*

    O que quero dizer é que concordo com o Caio quando ele diz que a nossa prática clínica sequer poderia ser considerada análise do comportamento aplicada nos critérios de Baer, Wolf e Risley:

    - É APLICADA, no sentido de ter validade social, mas
    - Raramente é ANALÍTICA (validade interna)
    - Quase nunca é TECNOLÓGICA (não propiciam condições/ descrições minunciosas que favoreçam a replicabilidade)
    - Nem sempre é CONCEITUAL
    - É muitas vezes difícil de determinar ´se é EFICAZ (pela falta de controle das variáveis, logo demonstração que a mudança é fruto da intervenção sua ou não e etc)
    - Difícil de demonstrar GENERALIDADE (ou seja, se é sustentável ao longo do tempo)
    - E até mesmo por vezes sequer é COMPORTAMENTAL (foco no comportamento)

    Não que eu ache que precisemos obedecer os exigentes critérios deles para fazer algo válido e interessante, mas nossa deficiência em cumprí-los demonstra que estamos sim "tateando".

    Parece que o sucesso de uma psicoterapia depende muito mais de habilidades interpessoais específicas do que de habilidades aprendidas formalmente, a partír de teoria (técnicas e etc). Assim, existem terapeutas muito competentes de todas as linhas teóricas e terapeutas incompetentes de todas elas também e, pra nossa frustração, não parece que nossa média é muito melhor que a dos demais.

    Em outras palavras, a teoria que vc utiliza não parece ser o mais importante, mas, roubando as palavras de Freud, a "influência pessoal do médico".

    Isso, somado a tudo que disse e ao fato de qualquer psicoterapia parecer ter efeitos similares, guia a uma conclusão inevitável: em grande parte, PSICOTERAPIA É PLACEBO.
    *foge correndo das pedradas*

    Tá. Não vou aprofundar demais nisso, porque já está planejado que este será o tema de um texto futuro aqui do blog.

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  12. Respondo os demais mais tarde, tenho de ir.

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  13. Não acho que psicoterapia seja placebo. Se várias terapias tem produzido bons resultados por conta de seus 'bons terapeutas', provavelmente os bons terapeutas compartilham um repertório comportamental parecido.

    Autores como Rogers, Perls, Irvin Yallom, se aproximam bem do que é realmente a terapia: contato humano, aceitação, sair de dentro da própria cabeça, etc.

    Basta definir esses termos bem conhecidos de forma operacionalizável e com uma fundamentação teórica congruente com os princípios da Análise do Comportamento. Assim, eles poderão ser testados em laboratório e elaborados em forma de técnicas e de treinamento de competências do terapeuta.

    Rogers ficou conhecido por gravar muitas horas de suas seções de terapia pra estudo posterior, e semelhante técnica de coleta de dados pode ser usada na pesquisa da clínica em análise do comportamento.

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  14. Aline: " Lembro marcadamente de um artigo SEU que tinha essa frase. Huehuehuehue. "

    Pois é, já fui do lado onanista da força. rs


    Sobre a professora: pede pra ela comentar a parte 2 tb! =D

    Sobre a publicação, podexá, devagar e sempre.

    No mais, valeu pelos elogios!


    Sérgio: Fico lisonjeado. E pelo jeito é quase consenso que a parte 2 é melhor do que a 1, apesar de ter dado bem menos polêmica. A 1 tem aparência de ser menos fundamentada, mesmo não sendo o caso.



    Anônimo [1]: "a meu ver, os problemas que aponta não são razões para abandonar a psicanálise, mas torná-la melhor."

    Como disse na introdução da Parte 1, o título é impreciso, já que o real motivo de ter abandonado a Psicanálise foi ter descoberto que tem coisa melhor. Estas são críticas que eu já tinha à Psicanálise quando ainda me orientava por ela.

    Se elas forem pertinentes e forem capazes de aceitá-las e modificar a Psicanálise de modo que elas não mais sejam pertinentes, FANTÁSTICO. É isso aí.

    Era o que eu pretendia fazer, mas depois que conheci BEM a Análise do Comportamento vi que seria desperdício de energia, já que já tinham proposto algo melhor.

    "É curioso notar que ao perceber estes problemas diversos na psicanálise tenha sido atraído justamente para a Análise do Comportamento, com sua promessa de cientificidade e, consequentemente, de "completude"."

    Esse troço de relacionar ciência e "certeza" ou "completude" é coisa de alguns pós-modernos cientificamente analfabetos (ou desonestos, mas prefiro acreditar na honestidade das pessoas sempre que possível). Para salvar suas idéias, romperam com a ciência, em seguida fazendo este espantalho dela e atacando.

    Nada poderia estar mais incorreto. Ciência é a maioria arma da humildade que conheço, de verificarmos nossas incertezas, incompletudes, insignificância.


    Ramon: De fato, é impressionante. Faz a gente ficar mais cauteloso ao interpretar autores e também mais cautelosos em nos expressar, caso venhamos a ser autores.

    Se é que adianta... Ou podemos dizer que Freud não foi cauteloso com isso?

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  15. Daniel: "Mesmo que Lacan ou qualquer psicanalista defenda ou tenha defendido que se alguém nasce neurótico ele permanece neurótico"

    Não que nasce, mas que torna-se (a maioria defende que a partír do Édipo), sim. Posso trazer fontes para vc, se for necessário.

    " daí concluir que a pessoa não pode mudar, melhorar ou se tornar mais feliz, vai uma distância muito grande."

    Eu não disse que essa idéia pressupõe que a pessoa não poderia mudar em nada, disse que pressupõe que algumas coisas são inalteráveis. Ainda pior é o fato da interpretação sobre o que é inalterável variar.
    Seja como for, o que parece ser comum é algo como o "funcionamento básico" da pessoa ser sempre o mesmo e o foco seria lidar com a aceitação disso. Também posso trazer fontes para vc sobre isso.

    "Enquanto este segredo mágico não nos é revelado, eu fico com Jung que diz que a única maneira de superar o sofrimento é aprender a suportá-lo."

    Sofrer ao longo da vida é inevitável. Mas frequentemente a melhor maneira de lidar como sofrimento não é apenas aprender a suportá-lo: ele não brota de vc, não é algo o qual vai ficar vindo por geração espontânea. Ele é fruto de vc, do seu ambiente e, fundamentalmente, de sua relação com ele. Essa mudança não é apenas interna, mas essencialmente aprender a modificar as coisas a sua volta para, por consequencia, ser modificado por elas.

    Se limitar a "aprender a suportar o sofrimento" é de um inatismo, de uma passividade, que é prejudicial. Aprender a lidar com o inevitável é fundamental, mas tomar as coisas como inevitáveis frequentemente é esquiva. A maioria não são, e podemos trabalhar de modo a produzir menos sofrimento para nós mesmos, modificando-nos, modificando o mundo a nossa volta, e não apenas suportando o sofrimento.

    Muito cristão, pouco realista isso.


    Sobre a questão da responsabilização do sujeito, apenas um complemento ao que o Fábio já colocou: se "responsabilizar o sujeito" fosse apenas fazer com que o cliente identifique as causas de sua queixa e procure modificá-las (com ajuda do terapeuta, espero), ótimo. Mas não é o caso e nem é o que critiquei. Se quiser, também posso trazer fontes sobre esse ponto que critiquei.


    Fábio: Valeu, cara! E boa resposta ao Daniel aí.


    Anônimo[2]: Vc faz bem em discordar de mim. Ainda não fundamentei suficientemente meu ponto. Nem pretendia.

    Não vou entrar nisso agora. Como disse, pretendo deixar para um texto futuro. Por enquanto só, imprudentemente, lancei a questão. rs

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  16. "E de outros tantos psicanalistas que dizem que, para algumas coisas, como o autismo, de fato recomendam a Análise do Comportamento."

    Já que estou em contexto para falar, e eu sempre quis me abrir sobre isso, fico surpreso com a quantidade de colegas psicanalistas que comentam que um ou outro caso que tratam seria melhor tratado pela análise do comportamento. Quando mais, passaram-me alguns desses casos. Não sei exatamente o que acontece: se o método psicanalítico é assaz restrito que só confere benefícios a certa parcela da população (e é bom tentarmos entender que parcela é esta), se esses colegas vêem um "sujeito suposto saber" na análise do comportamento em se tratando de certos problemas clínicos ou se a análise AC realmente dá conta do recado e isso se faz perceber. Pode ser um conjunto de tudo isso, ou podem ser vários outros fatores que me fugiram agora. O fato é que isso me intriga e que eu gostaria de saber como os psicanalistas vêem a AC e o que tem sido difícil na clínica psicanalítica. (Não que não haja dificuldades na clínica analítico-comportamental... e não que parte dessas dificuldades não partam dos próprios médicos novatos.)

    Parabéns pelo texto, Pedro. Abraço a todos.

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  17. Obrigado, Daniel!

    Essa questão também me intriga e é interessante que eu ainda não tenha visto psicanalistas que se colocaram essa questão do modo como a formulo no meu texto, acima.

    Eu deixei minha conclusão subentendida, mas para psicanalistas é no mínimo algo a se pensar.

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  18. Olá, Pedro;

    O exagero na interpretação de certas premissas é uma das maiores fontes de mal-entendidos na compreensão de teorias. Afirmar que há certas coisas inalteráveis que devemos aceitar não é um mal em si, pois há realmente muitas coisas em nós e no mundo que não podemos mudar e que devemos aceitar. Tudo depende do que está colocado como inalterável e necessitando de aceitação.

    A Psicanálise estabelece que depois que nossa estrutura se forma como neurótica, psicótica ou perversa, ela não pode ser alterada. E eu não entendo como isso pode gerar tanto desgosto, uma vez que se trata quase de uma obviedade. Não conheço nenhum caso de pacientes que tenham se curado de psicoses ou que tenham deixado de apresentar uma perversão sexual. Conheço casos de pacientes que aprendem a lidar com suas psicoses e com suas perversões, a ponto mesmo de viverem uma vida normal, com casamento, filhos, etc., mas não conheço casos em que estes pacientes tenham se “curado” de sua condição.

    O que a Psicanálise fez foi teorizar a respeito daquilo que parece ser óbvio por evidência. É evidente que não é possível que uma tese dessas seja comprovada, ou seja, não é possível provar que uma estrutura, quando formada, se torne insuperável. Mas, da mesma forma, é impossível provar que todos os homens são mortais, e que estamos todos fadados a morrer. Consideramos que todos vamos morrer e que a morte é uma certeza porque isso se tornou evidente pela experiência: Todas as pessoas que viveram até hoje morreram; logo, concluímos que todas as pessoas são mortais. É uma lógica indutiva, que não tem fundamento, mas que não deixa de ser menos evidente por causa disso.

    Isso nos trás à parte desta teoria que é, talvez, a mais polêmica: Aquela que diz que nós, pessoas “normais”, somos e seremos neuróticos até o fim da vida. Esta tese está estreitamente ligada a outra, aquela que diz que nosso objeto de desejo inicial foi perdido e não será jamais encontrado. Pois o neurótico é justamente aquele que passa a vida toda buscando este objeto e lutando contra a negação do mesmo, denominada ‘castração’. No entanto, esta tese tão polêmica e tão mal-entendida também está formalizando um fato que é mais do que evidente pela experiência: O fato de que estamos sujeitos a DESEJAR até o último instante de nossas vidas. Se o desejo encontrasse o objeto por ele buscado, ele se realizaria, e cessaria de ser ‘desejo’. Entretanto, por mais que nosso desejo se satisfaça, ele nunca alcança esta realização, e estamos sempre desejando algo diferente. Uma vez que a satisfação do desejo não o realiza, a satisfação já significa sua negação, ou a constatação que o objeto que nos satisfez não é o objeto que buscávamos. A escolha de um novo objeto de desejo funciona como a negação desta negação; negação da negação que mantém o desejo sempre ativo. Este mecanismo é, segundo a Psicanálise, um mecanismo neurótico. Portanto, a tese de que seremos neuróticos para sempre e que jamais encontraremos o objeto perdido apenas formaliza um fato evidente pela experiência: O fato de que estamos fadados a desejar até o último dia de nossas vidas. Mais uma vez: Não é possível provar que o desejo seja insuperável, mas também não é possível provar que a morte é inevitável. Entretanto, nossa experiência nos informa que as pessoas que viveram até hoje morreram sempre desejando alguma coisa – ainda que fosse a própria morte. A Psicanálise nos fornece uma explicação para que as coisas sejam assim.

    CONTINUA

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  19. Portanto, assim como não é absurdo algum aprendermos a conviver com a CERTEZA da morte, mesmo que não se possa ter certeza alguma dela, também não é absurdo postular que devemos conviver com o fato de que estamos fadados a desejar por toda a vida, e que, por isso, ainda que nossa vida possa ser bela e feliz, nunca encontraremos aquele objeto que realizará nosso desejo e o fará de cessar de ser desejo. Não vejo absurdo algum nisso.

    Sobre a questão do sofrimento, o problema que eu vejo é que você coloca o ‘suportar o sofrimento’ e o ‘modificar as condições do sofrimento’ como alternativas excludentes, quando, na verdade, uma coisa já implica a outra.

    Você não modifica as condições do sofrimento que você não aprendeu a suportar. Para modificar as condições do sofrimento você precisa compreende-lo, e você não o compreende se não permite que ele se aproxime de você, e ele não vai se aproximar de você se você não o suportar.

    E, por sua vez, aprender a suportar o sofrimento já é, por si mesmo, modificar as condições que o mantém. E digo isso no sentido mais comportamental possível. O sofrimento é uma resposta à falta de alguma coisa que nos condicionamos a tomar como essencial. O sofrimento é, assim, um alerta de que estamos em falta daquilo que nos é essencial. O sofrimento é um alerta de perigo. Mas, na medida em que o alarme não é seguido de nenhuma conseqüência grave, com o tempo ele deixa de ser emitido. É por isso que Jung disse que suportar o sofrimento é a única maneira de superá-lo. Pois o suportar o sofrimento já é o agir em sua condição mais profunda. Não há nisso nenhuma conotação cristã ou masoquista. O masoquista não é aquele que aprende a suportar o sofrimento; o masoquista é aquele que CULTIVA o sofrimento, pois o sofrimento lhe apraz. Eu acho que, mais uma vez, sua crítica levou as coisas para o lado errado.

    Sobre a questão da responsabilidade do sujeito, acho que não deixei bem claro o meu ponto. Em primeiro lugar, não existe, na Psicanálise, qualquer eu iniciador. Isso contradiz sumamente a própria gênese do eu na teoria psicanalítica. Na teoria psicanalítica o eu surge (1) das identificações com mundo e (2) das relações com as barreiras mundanas ao desejo que forçam o adiamento da satisfação e colocam o processo secundário para mediar entre o mundo e o processo primário (impulsivo). Assim, não existe EU fora da relação com mundo, uma vez que o eu se forma NA relação com o mundo.

    Em segundo lugar, a questão da responsabilidade do sujeito na Psicanálise se resume bem naquela famosa citação de Freud: “Não importa o que os outros fizeram com você; importa o que você fará com tudo isso.” Não se trata de culpar o sujeito. Trata-se, em primeiro lugar, de deixar aquele lugar de culpabilização do MUNDO, como se o mundo nos devesse satisfações e compensações pelas nossas dores. Em segundo lugar, trata-se de conscientizar-se de que as possibilidades de mudança se encontram no próprio sujeito, e que se o próprio sujeito não operar (nele mesmo e no mundo) as mudanças necessárias para que seu sofrimento diminua, ninguém fará isso por ele. Por isso eu acho que, mais uma vez, você levou a coisa para o lado errado.

    Abraço

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  20. Daniel: Como já comentei com vc por outros meios e até mencionei no meu último post deste blog, estou bastante atarefado ultimamente. Por isso a demora para responder.

    Mas tentarei fazer isso até o final da semana.


    Abraços

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  21. Daniel: "Não conheço nenhum caso de pacientes que tenham se curado de psicoses ou que tenham deixado de apresentar uma perversão sexual. Conheço casos de pacientes que aprendem a lidar com suas psicoses e com suas perversões, a ponto mesmo de viverem uma vida normal, com casamento, filhos, etc., mas não conheço casos em que estes pacientes tenham se “curado” de sua condição."

    Existem alguns casos (inclusive artigos analítico-comportamentais com follow-ups) de pessoas que nunca mais apresentaram os sintomas que a permitem descreve-la como "psicótica" ou "perversa". Mas daí a psicanálise vai e fala que no fundo ela continua sendo, mas aprendeu a lidar com aquilo. Mas qual evidência temos disso se ela é indistinguível de uma pessoa não-psicótica e não-perversa?

    Mas concordo que em uma grande parte dos casos pode haver uma diminuição grande da frequência e intensidade dos sintomas e, principalmente, do sofrimento da pessoa com relação àquilo, mas não um cessar. Mas daí para concluir que existe uma estrutura de personalidade é um enorme salto lógico, mais ainda se for falar que isso se forma após o Édipo, mais ainda a cada pormenor da questão que a psicanálise acrescenta.
    É bem possível, por exemplo, que a psicose tenha bases orgânicas, como indicam muitos estudos, o que já é uma explicação melhor pra isso do que "estruturas psíquicas".


    " É evidente que não é possível que uma tese dessas seja comprovada, ou seja, não é possível provar que uma estrutura, quando formada, se torne insuperável. Mas, da mesma forma, é impossível provar que todos os homens são mortais, e que estamos todos fadados a morrer. Consideramos que todos vamos morrer e que a morte é uma certeza porque isso se tornou evidente pela experiência: Todas as pessoas que viveram até hoje morreram; logo, concluímos que todas as pessoas são mortais. É uma lógica indutiva, que não tem fundamento, mas que não deixa de ser menos evidente por causa disso."

    A idéia de estrutura e sua confirmação não partem de uma lógica indutiva, porque INFERE entidades além da observação.
    Na indução eu observo sempre A, depois B. Sempre que A aparece, aparece B, e B jamais aparece sem A. Daí eu INDUZO que A é condição para B.

    Na psicanálise eu não observo uma estrutura psicótica e em seguida vejo que ela se torna psicótica e permanece assim para sempre. A estrutura é uma inferência acrescentada a posteriori e, necessário dizer, supérflua e não evidenciada. Não permite aprimorar o compreender, prever nem agir sobre aquilo que pretende servir de explicação, equivalendo a qualquer entidade fictícia que se possa inventar.

    Uma analogia melhor seria comparar a idéia de estrutura com a de duende da psicose, neurose ou perversão. Cada pessoa tem seu duende, eles são invisíveis e indetectáveis, mas entram nas crianças em idade tenra, podendo variar um pouco. A partir daí, eles nunca mais saem, e quem tem o duende da psicose está fadado a ser psicótico, neurose neurótico, etc. Com o tratamento, na verdade vc age sob o duende e ele pode até se acalmar por um tempo, ou decidir se manifestar pouco, mas ocasionalmente vc verá evidências do duende.

    " No entanto, esta tese tão polêmica e tão mal-entendida também está formalizando um fato que é mais do que evidente pela experiência: O fato de que estamos sujeitos a DESEJAR até o último instante de nossas vidas. "

    E isso só se aplica a neuróticos? E só começamos a desejar a partir do Édipo?
    E se é só isso que querem dizer por neurose (e sei que não é) por que simplesmente não dizem isso? E qual a valia dessa informação, qual a novidade dela e como ela contribui para o conhecimento?

    É uma tese falida, perceba.

    CONTINUA >

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  22. "Se o desejo encontrasse o objeto por ele buscado, ele se realizaria, e cessaria de ser ‘desejo’."

    Essa é uma definição arbitrária da psicanálise de "objeto", "realização" e "satisfação", que eu questiono, inclusive.

    Posso sentir sede, meu desejo ser água, eu beber, me satisfazer, mas depois ter sede (desejo de água) novamente. Isso ocorre porque ocorrem modificações e o organismo que volta a sentir sede não é mais idêntico ao que se satisfez antes. Por diversos motivos, podemos voltar a sentir sede, desejo sexual, fome, vontade de correr ou de dar um abraço. Isso não quer dizer que o objeto da sede não era a água, apenas que desejo não é um só, que ou nunca mais aparece ou não foi satisfeito, mas que pode ocorrer novamente por diversas circunstâncias as quais é preciso forçar MUITO a barra para falar de "incompletude", "insatisfação", "sujeito barrado". Na melhor das hipóteses são metáforas inúteis.


    "A Psicanálise nos fornece uma explicação para que as coisas sejam assim."

    Não me parece explicação alguma para absolutamente nada. Na melhor das hipóteses uma série de metáforas, analogias e masturbações mentais (em cima de brincadeiras de vocabulário) em cima de coisas óbvias. Na melhor das hipóteses, ou seja, nos bons momentos dela.


    "Portanto, assim como não é absurdo algum aprendermos a conviver com a CERTEZA da morte, mesmo que não se possa ter certeza alguma dela"

    Discordo dessa premissa, mas argumentar isso desviaria muito do nosso assunto e é irrelevante pois concordo com a conclusão que é " também não é absurdo postular que devemos conviver com o fato de que estamos fadados a desejar por toda a vida, e que, por isso, ainda que nossa vida possa ser bela e feliz".




    "(...) Pois o suportar o sofrimento já é o agir em sua condição mais profunda. "

    Nessa acepção eu obviamente concordo, mas minha crítica neste ponto foi justamente em como isso pode servir de desculpa para posturas nada interessantes de serem adotadas diante do sofrimento e como a linguagem psicanalítica (e alguns psicanalistas em especial - posso trazer gente falando de maneira bem clara isso) tende a favorecer isso.


    "O masoquista não é aquele que aprende a suportar o sofrimento; o masoquista é aquele que CULTIVA o sofrimento, pois o sofrimento lhe apraz. "

    Dentro da acepção que vc descreveu vc tem razão, e neste caso admito o equívoco. Mas "suportar" usualmente não remete a encontrar maneiras de agir sobre e modificar/aliviar/cessar (relativismos à parte) aquele sofrimento, mas a CARREGÁ-LO, servir de SUPORTE (como diz a etimologia do termo). Como uma cruz que alguém carrega, continua sofrendo com seu peso, mas decide conformar-se, ou seja, "suportá-la" (ser suporte).

    Isso é o que estou criticando.


    " Em primeiro lugar, não existe, na Psicanálise, qualquer eu iniciador."

    Em Freud vc tem razão, na maioria dos demais psicanalistas, não.


    Abraços

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  23. Vocês têm cada uma.

    Com certeza esse post foi bem melhor que o primeiro, até pq o outro era só um desabafo que praticamente não dizia nada sobre a psicanálise – e sabe-se lá pq tantos “parabéns” e elogios.

    Não sei que discordância entre os psicanalistas está se referindo, mas com certeza o fato da produção de Freud e Lacan serem extensas e de difícil tradução, é em parte responsável por isso. Os conceitos em si, separadamente, não “podem significar qq coisa” a cada autor.


    Tb não sei se estrutura nunca muda, agora da necessidade de distinção vc mesmo responde na nota [1](alguém leu??? Pedro se lembra que escreveu isso??)... é estritamente prática, serve para diferenciar a psicose da neurose pq o modo de tratamento da neurose não é efetivo com a psicose (“formas mais graves de pertubação mental”). E em relação aos tipos clínicos (obsessão e histeria), a tal retificação subjetiva (responsabilização) não se faz do mesmo jeito pq são lógicas um pouco diferentes.
    Então nada disso é invencionice arbtitrária.

    ***

    A psicanálise nunca é pontual, mas age sobre um paradigma, uma lógica não muito óbvia pro senso comum. Ou seja, não tem nada a ver comparar com pessoas deificientes. Não sei se negamos o sofrimento, mas sim o desamparo. É uma questão mais paradigmática/psíquica/lógica do que factual/objetiva. Muitas vezes o que a pessoa quer é sofrer mesmo, contanto que sofra de um jeito(objeto) e não de outro (desamparo).

    O objetivo não é o sujeito sair aceitando tudo, mas a assunção da castração que é o oposto à resignação, à conformação psiquica (alienação ao Outro). E isso passa por responsabilizar o sujeito (inconsciente) para que ele não se fixe comoo objeto passivo do “Outro” suposto.
    A Psicanálise não serve para necessáriamente eliminar (muito menos evitar), nem aceitar sofrimento, mas para autorizar nosso “saber fazer” singular. Importa mais como(fantasias, significantes S1-S2) a pessoa percebe e está dentro desse ambiente com suas questões do que um ambiente absoluto... O que se vai retificar na clínica é isso, nossa posição subjetiva. (e porque não: nossa ação é sempre uma variável naquilo que está acontecendo, o que não quer dizer controle total sobre si mesmo e o mundo).



    “Se elas forem pertinentes e forem capazes de aceitá-las e modificar a Psicanálise de modo que elas não mais sejam pertinentes, FANTÁSTICO. É isso aí.”

    Isso é sério? Oo Pedro, até onde eu sei, o que não é muito, elas não são pertinentes.

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  24. Pelo que entendi a posição especifica de certo sujeito é a própria configuração do Desejo.
    E um exemplo tosco: ele conceberia a si mesmo como um objeto quando supõe (=imaginariamente, fantasisticamente inconsciente ou não) um lugar pronto, natural no qual só precisaria se encaixar de algum modo (o que negaria o desamparo, a castração e a natureza faltante/insatisfeita/criativa do Desejo). Ou algo parecido, rs.

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  25. Anônimo: "Com certeza esse post foi bem melhor que o primeiro, até pq o outro era só um desabafo que praticamente não dizia nada sobre a psicanálise – e sabe-se lá pq tantos “parabéns” e elogios."

    Obrigado, parece ser consenso que este ficou melhor. O outro era MAIS DESABAFO, mas não apenas isso. Aponto algo simples mas importante nele, talvez não tenha ficado atento à dimensão da questão. Acredito que esta seja a causa dos elogios mais do que qualquer coisa.


    "Não sei que discordância entre os psicanalistas está se referindo, mas com certeza o fato da produção de Freud e Lacan serem extensas e de difícil tradução, é em parte responsável por isso."

    Há muita discordância entre psicanalistas e,embora de fato existam problemas de tradução, não é a estes que me refiro. Peça para um psicanalista dizer qual o objetivo da clínica psicanalítica e ouvirá respostas diferentes; dentre os que derem respostas semelhantes, pergunte então o que aquilo quer dizer e ouvirá respostas mais diferentes ainda; e, quanto mais vc aprofundar a questão, maior a divergência.
    E não apenas isso, mas há rixas inter-escolas psicanalíticas, como os adeptos de Miller e os de Collete Soler.


    "Os conceitos em si, separadamente, não “podem significar qq coisa” a cada autor."

    Não deveriam, mas o fato de suas definições serem vagas fazem com que ou repitam o que o autor diz sobre o conceito (como papagaios acadêmicos) ou tenham interpretações diferentes. Se vc começa a perguntar demais, com facilidade percebe que a coisa toda é insustentável e com frequência grande demais não sabem o que estão dizendo (comprovando a tese dos "papagaios acadêmicos").


    "Tb não sei se estrutura nunca muda, agora da necessidade de distinção vc mesmo responde na nota [1](alguém leu??? Pedro se lembra que escreveu isso??)... "

    Lembro, ué, e, se leu o resto da nota e o resto do texto, talvez compreenda como isso não muda, a meu ver (e se discorda, aponte), a pertinência de minha crítica. E vc fala "necessidade de distinção", termo que não utilizo justamente por não gostar muito da distinção psicanalítica.


    "E em relação aos tipos clínicos (obsessão e histeria), a tal retificação subjetiva (responsabilização) não se faz do mesmo jeito pq são lógicas um pouco diferentes.
    Então nada disso é invencionice arbtitrária."

    Sou obrigado a ceder que por um lado vc tem razão: se há uma utilidade clínica, em certo sentido não é arbitrário (é, irônicamente, pragmático - baseado numa útil distinção prática que altera o norte da clínica). Desta forma, "invencionice arbitrária" é sim um termo injusto.

    MAS (lá vem, né? rs) utilizei no sentido de que de fato são conceitos inventados, inferidos (não são fruto de uma observação, mas inferências a partír destas, como apontei em minha resposta ao Daniel, acima), e são arbitrários na medida em que são mantidos quase que exclusivamente pela voz da autoridade: se Lacan tivesse dito que uma maneira excelente de distinguir uma neurose de uma psicose é que o psicótico nunca vai entender uma piada, ia ter muita gente incluindo isso dentro do conceito de psicose - como parte de um diagnóstico diferencial e teorizando (masturbando-se, cá pra nós) a respeito.


    CONTINUA =>

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  26. "A psicanálise nunca é pontual, mas age sobre um paradigma, uma lógica não muito óbvia pro senso comum. Ou seja, não tem nada a ver comparar com pessoas deificientes."

    Não estou certo se entendi a relação entre suas duas frases. A conclusão parece não ser uma derivação lógica da premissa.

    Essa "lógica não muito óbvia para o senso comum" também não é muito óbvia pra mim, talvez por que eu seja um reles membro do senso comum, mas tenho bons motivos para acreditar que também não seja tão óbvia assim até para os psicanalistas. Se puder me explicar mais sobre essa lógica e qual sua valia, eu ficaria grato.

    E não comparei com deficientes, fiz comparação da eficácia das psicoterapias em casos mais severos, com a eficácia de outros tratamentos inócuos/placebo em casos mais severos.


    "Não sei se negamos o sofrimento, mas sim o desamparo. É uma questão mais paradigmática/psíquica/lógica do que factual/objetiva."

    Novamente, explique-se.


    "Muitas vezes o que a pessoa quer é sofrer mesmo, contanto que sofra de um jeito(objeto) e não de outro (desamparo). "

    O problema é que essa crença (injustificada, vale dizer) serviria para justificar "tratamentos" que bem da verdade não passam de pura embromação.

    Há pessoas que "gostam" de sofrer, mas por que o sofrimento está emparelhado com outra coisa, que compensa o sofrimento. Tem um experimento onde para evitar um choque bastante aversivo um rato pode pressionar uma alavanca e ser queimado com um ácido (pouco corrosivo, mas definitivamente bem aversivo). O ácido é, no entanto, menos averisvo que o choque, de modo que fica emparelhado com o "livrar-se do choque" e vc pode até mesmo reforçar outros comportamentos do rato com o ácido, que é aversivo. pode ensina-lo a fazer algo recompensando-o com um ácido que lhe queima a pele, porque o ácido esá emparelhado com "evitar o choque", bem mais averisvo.

    Da mesma forma, pode-se emparelhar algo aversivo com algo tremendamente aprasível, como é comum nos seres humanos ser a atenção ou carinho, por exemplo. Então, dando um exemplo bastante simplificado, se a pessoa só tinha atenção dos pais quando estes batiam nele ou se logo após baterem é que frequentemente os pais eram carinhosos, se arrependendo, não é pouco frequente que esta criança venha a "gostar de sofrer". Não é que goste de sofrer, mas uma série de contingências produziram isso. Dá pra mudar e certamente a própria pessoa preferiria ver-se livre do sofrer que, mesmo emparelhado com algo reforçador, continua sendo aversivo; melhor ter o reforçador sem o sofrimento.


    "A Psicanálise não serve para necessáriamente eliminar (muito menos evitar), nem aceitar sofrimento, mas para autorizar nosso “saber fazer” singular. "

    Parece-me frase feita sem tanto significado.


    CONTINUA=>

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  27. "Importa mais como(fantasias, significantes S1-S2) a pessoa percebe e está dentro desse ambiente com suas questões do que um ambiente absoluto... "

    Desconheço linha teórica que pense de maneira diferente. Na Análise do Comportamento, por exemplo, não existe essa de "ambiente absoluto", sequer trabalhamos com o conceito de "realidade". A Análise do Comportamento também parte de uma metodologia/epistemologia do sujeito único, de modo que é absolutamente irrelevante como as coisas "de fato são" (se é que existe isso), mas sim como o sujeito percebe, sente, pensa, lida com aquilo, que é absolutamente único, fruto de sua história única.

    Isso é um mínimo, um básico, não algo que caracterize uma linha teórica (por não ser exclusiva dela) TAMPOUCO justifique sua existência e prática.

    Se é isso que lhe fascina na Psicanálise - o que de fato parece ser - , adianto-lhe que encontrará isso e muito mais em outros lugares. Toda essa paixão, isso considera uma mudança de perspectiva e modo de encarar as coisas, mas com muitas outras mudanças estonteantes e possibilidades, além de um conhecimento de fato sobre aquilo com o qual lidamos, um consequente know-how para conseguir o que almeja.


    "O que se vai retificar na clínica é isso, nossa posição subjetiva. (e porque não: nossa ação é sempre uma variável naquilo que está acontecendo, o que não quer dizer controle total sobre si mesmo e o mundo)."

    O cerne deste ponto está comentado logo acima, mas vale pontuar que também desconheço linha teórica que acredite ter controle total sobre seja o que for.


    "Isso é sério? Oo Pedro, até onde eu sei, o que não é muito, elas não são pertinentes."

    Talvez não sejam mesmo. Não tomo isso como um PRESSUPOSTO, mas argumento meu ponto e aguardo refutação. Portanto, caso não sejam pertinentes, por favor me aponte por que não são. O que estou ignorando, o que estou concebendo mal e como isso é decisivo em minha argumentação, fazendo com que ela perca sua pertinência.
    Do contrário, entenda, nem eu nem ninguem tem motivos para pensar o contrário.

    (e eu duvido muito que vc saiba pouco =) )


    "Pelo que entendi a posição especifica de certo sujeito é a própria configuração do Desejo.
    E um exemplo tosco: ele conceberia a si mesmo como um objeto quando supõe (=imaginariamente, fantasisticamente inconsciente ou não) um lugar pronto, natural no qual só precisaria se encaixar de algum modo (o que negaria o desamparo, a castração e a natureza faltante/insatisfeita/criativa do Desejo). Ou algo parecido, rs. "

    Sim, ele pode arrumar um significante que o ordene, dê lugar, sensação de pertencimento, um papel, e permita lidar com o "real incapaz de suportar". Isso se aplica não apenas às psicoses (através da chamada bengala imaginária ou dos sinthomas), mas às demais estruturas.

    Mas tem uma maneira bem melhor - mas NUSSA, infinitamente melhor mesmo - de vc entender tudo isso. Sério, conheça Análise do Comportamento, não tem por que não. Vai se apaixonar.

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  28. “Peça para um psicanalista dizer qual o objetivo da clínica psicanalítica e ouvirá respostas diferentes; dentre os que derem respostas semelhantes, pergunte então o que aquilo quer dizer e ouvirá respostas mais diferentes ainda; e, quanto mais vc aprofundar a questão, maior a divergência.”

    Sinceramente, nunca vi isso. Minha crítica é mais semelhante a outra coisa que você disse, aos analistas que conheço estarem alienados a Lacan, procurando repetir o mesmo o tempo todo sem uma síntese pessoal da teoria. Isso eu vejo que dificulta a transmissão didática e até a própria compreensão que eles têm.
    Quanto ao objetivo, realmente, alguns psicanalista não parecem estar cientes da dimensão do significado e da radicalidade desse objetivo. Podemos dizer que ficam mais atrás do que Lacan conseguiu amarrar mais a frente da sua toeria sobre o final de análise.

    “E não apenas isso, mas há rixas inter-escolas psicanalíticas, como os adeptos de Miller e os de Collete Soler.”

    Hm, divergência de posiciomento é uma coisa normal em qq lugar.



    Isso que eu quis dizer, você cedeu ao que eu enfatizei do que você mesmo escreveu na nota [1]. Você desenvolveu muito no sentido dos psicanalistas atribuirem esta coisa imutável ser algo danoso. Pelo que consegui perceber, você aparenta saber o suficiente para, tendo boa vontade, não afirmar algumas coisas ou então, algumas vezes, só está confusamente equivalendo a psicánalise ao quanto você conhece de alguns psicanalistas pessoalmente. Sendo mais claro: acho que se formos considerar "É verdade que tudo isso que apontei varia e podem existir analistas que não incorrem em nenhuma destas besteiras” + “Notas: [1] Justiça seja feita[...]” dá pra resumir suas críticas em dois ou três parágrafos.

    Não é exclusivamente pela autoridade de Lacan, há quem discorde dele. Jerusalinsky em sua clínica ESPECIALIZADA em AUTISMO, por exemplo, acha que esta psicopatologia seria uma quarta estrutura. Alngus não consideram a melancolia uma psicose. Sem falar em questões como o transexualismo, a homossexualidade e a diferença sexual, muitos discordam de Lacan ou do que eles acham que Lacan disse.



    “Desconheço linha teórica que pense de maneira diferente [...]também desconheço linha teórica que acredite ter controle total sobre seja o que for.”

    O que apontei foi para que não me confundam e arranjem mais história, rs. Meu objetivo é apenas colocar que as críticas pontuais desse texto não têm nada a ver e não dizer que a psicanálise está certa e explicá-la. O seu outro post... Bom a questão é que não dá pra discutir com o posto sobre Lacan. Vc diz “é assim” e só posso resonder “não é” e pronto.

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  29. Agora, explicando melhor.
    O objetivo da intervenção não é pontual como aceitar um fato ou outro “pq a vida é assim”, mas visa um paradigma, uma lógica narcisista ou: a economia narcísica do Desejo que tenta reduzi-lo à Demanda de reconhecimento e amor ao Outro. Essa tentativa tem a ver com a fantasia, como vemos na fórmula do sintoma: o Desejo (d) suportado principalmente pela fantasia (S<>a = relação do sujeito com o objeto). A fantasia é uma hipótese sobre: a falta no Outro, o que (objeto) o Outro deseja = como completá-lo (a tal busca neurótica pelo objeto de satisfação do Desejo, sendo que, justamente, esse Desejo é o Desejo do Outro) e o Eu é uma tentativa de corresponder ao olhar, aos supostos ideias desse Outro. Não é à toa que o final de análise tem a ver com a travessia da fantasia. (alguém que entenda de psicanálise, por favor, me corrija).
    Tudo isso é fruto de relação mãe-bêbe, de como ele estava submetido aos cuidados da mãe pelo seu estado caótico e angustiante de pré-maturação e desamparo, dependendo do Outro para organizar seu mundo (seu corpo é sensível aos significantes que vem do outro – filogeneticamente?).
    Essa descrição superficial não é algo sem significado, tem que estudar psicanálise mesmo, um conceito está intimamente articulado com o outro, daí é até compreensível a dificuldade de se obter uma resposta rápida e direta.. Entra nisso o tal autorizar o seu saber fazer com o que leva em si de patológico, traumático, etc, ao invés de sua vida psiquica girar em torno de recalcar a castração (=neurose, o psicótico foraclui), se submetendo excessivamente ao olhar do Outro suposto ter o saber...O neurótico teme a castração pq a compreende mal... arrrgh, é por aí.
    Ah, todos os conceitos da psicanálise são estritamente práticos e interdependentes. Ao menos a intenção (do “discurso do analista”) não é servir de modelo máximo de explicação, algo extremamente coerente com a teoria.


    “Mas tem uma maneira bem melhor - mas NUSSA, infinitamente melhor mesmo - de vc entender tudo isso. Sério, conheça Análise do Comportamento, não tem por que não. Vai se apaixonar.”

    Hehehe, eca. Tenho uma posição parecida com a sua: acho que a AC é interessante e inteligente, mas tem coisa MUITO melhor, que se apronfunda no que é especificamente humano.
    Enfim, pelo que estou vendo nos seus argumentos... então não seja como um dos psicanalistas “atuais” seja um psicanalista freudiano, lacaniano ou freud-lacaniano diferente, rs.

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  30. Anônimo: "Hm, divergência de posiciomento é uma coisa normal em qq lugar."

    É sim. Só apontei isso como resposta à sua indagação a respeito de quais discordâncias eu me referia.


    "Você desenvolveu muito no sentido dos psicanalistas atribuirem esta coisa imutável ser algo danoso. Pelo que consegui perceber, você aparenta saber o suficiente para, tendo boa vontade, não afirmar algumas coisas ou então, algumas vezes, só está confusamente equivalendo a psicánalise ao quanto você conhece de alguns psicanalistas pessoalmente."

    Eu explicitei essa questão no próprio texto, quando digo que "Assim, não é legítimo psicanalistas esquivarem destas críticas apontando que dizem respeito a analistas e não à Psicanálise, pois, como acredito ter apontado, esta sem duvida tem facilitado – vou além, favorecido – que isso ocorra. Psicanalistas devem não apenas ficar atentos às suas práticas para evitarem isso, mas também procurar aprimorar a Psicanálise de modo que sua teoria evite essas bobagens."

    Ou seja, não apenas observo isso em psicanalistas como a própria teoria favorece isso e deveria ser reformulada.


    "Não é exclusivamente pela autoridade de Lacan, há quem discorde dele. Jerusalinsky em sua clínica ESPECIALIZADA em AUTISMO, por exemplo, acha que esta psicopatologia seria uma quarta estrutura. Alngus não consideram a melancolia uma psicose. Sem falar em questões como o transexualismo, a homossexualidade e a diferença sexual, muitos discordam de Lacan ou do que eles acham que Lacan disse."

    Estou ciente disso e nada disso escapa da minha crítica. Se escapa, por favor me aponte como, porque falhei em entender.


    "O seu outro post... Bom a questão é que não dá pra discutir com o posto sobre Lacan. Vc diz “é assim” e só posso resonder “não é” e pronto."

    Não entendi. O que eu estou simplesmente dizendo que "é assim" e vc discorda?
    Se eu não estou trazendo argumentos ou fontes para minha afirmação isso é sim um problema da minha crítica, indo bastante além de "ambos estamos certos nos nossos pontos de vista", e vc faria bem em me apontar.


    "O objetivo da intervenção não é pontual como aceitar um fato ou outro “pq a vida é assim”, mas visa um paradigma, uma lógica narcisista"

    Até aqui vc não disse nada, já que é justamente o ponto que interroguei anteriormente. Mas daí vc continua:

    " ou: a economia narcísica do Desejo que tenta reduzi-lo à Demanda de reconhecimento e amor ao Outro."

    O que também não quer dizer lhufas. Em muitos aspectos a psicanálise me lembra a conscienciologia, no sentido de confundir um aglomerado de conceitos em uma frase gramaticalmente correta e acreditar estar explicando algo. Mas a coisa piora a medida que vc "explica" mais:

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  31. "Essa tentativa tem a ver com a fantasia, como vemos na fórmula do sintoma: o Desejo (d) suportado principalmente pela fantasia (S<>a = relação do sujeito com o objeto). A fantasia é uma hipótese sobre: a falta no Outro, o que (objeto) o Outro deseja = como completá-lo (a tal busca neurótica pelo objeto de satisfação do Desejo, sendo que, justamente, esse Desejo é o Desejo do Outro) e o Eu é uma tentativa de corresponder ao olhar, aos supostos ideias desse Outro."

    Viu? A psicanálise fascina mais como literatura do que como explicação pra qualquer coisa (onde ela falha terrivelmente). Wittgenstein fala muito isso. “O “encanto” e a sedução de que as explicações analíticas se aproveitam são relacionadas por Wittgenstein com uma característica desse saber particular: a referência às “profundidades”. Fórmula que sugere que o mistério pode substituir a resposta nesse tipo de “explicações”. Wittgenstein sugere assim que o sujeito pode achar-se particularmente “gratificado” – por qualquer parte de si mesmo – ao ver-se designar como “explicação” algo que ele não compreende ou que lhe deixa algumas reservas de sombra, embora fazendo-o participar do mistério: "É por isso que a imagem segundo a qual as pessoas têm pensamentos subconscientes tem seu encanto. Esse encanto singular é relacionado com uma espécie de romantismo abissal: A idéia de um submundo, de um porão secreto. Algo de oculto, de inquietante.” (p.42)

    O que se extrai de produtivo tanto blablabla lacaniano (ou freudiano) são coisas simples, óbvias ululantes, que não justifica a adesão à psicanálise.


    "Não é à toa que o final de análise tem a ver com a travessia da fantasia."

    Só um comentário nada a ver: sempre que alguém fala, ao invés de "travessia da fantasia", "travessia do fantasma" (que é na verdade por que em espanhol é essa a tradução), eu lembro de "Ghost" e o cara atravessando o fantasma.


    "Tudo isso é fruto de relação mãe-bêbe, de como ele estava submetido aos cuidados da mãe pelo seu estado caótico e angustiante de pré-maturação e desamparo, dependendo do Outro para organizar seu mundo (seu corpo é sensível aos significantes que vem do outro – filogeneticamente?)."

    Como disse, tudo isso existem maneiras melhores - e parto de QUALQUER concepção de "melhor" que vc quiser adotar para afirmar isso - de falar sobre isso, de explicar, e que ainda permitem vc operacionalizar melhor estes conceitos: fazer deles algo prático.

    Neste caso, com tudo isso vc está apenas dizendo que o bebê depende de outros para sobreviver e é através destes que vai aprender a maior parte das coisas.


    "Entra nisso o tal autorizar o seu saber fazer com o que leva em si de patológico, traumático, etc, ao invés de sua vida psiquica girar em torno de recalcar a castração (=neurose, o psicótico foraclui), se submetendo excessivamente ao olhar do Outro suposto ter o saber...O neurótico teme a castração pq a compreende mal... arrrgh, é por aí."

    Novamente, muito blablabla que só serve pra fazer pose, masturbação mental, atividade predileta da inteligentsia francesa.

    O que se extrai daí é apenas que a sinalização de punição inibe comportamentos (públicos e privados). E ainda assim a idéia de estrutura não tem valia ALGUMA, já que podemos ainda descrever isso em cada pessoa e inclusive sermos mais justos com cada sujeito.

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  32. "Ah, todos os conceitos da psicanálise são estritamente práticos e interdependentes. Ao menos a intenção (do “discurso do analista”) não é servir de modelo máximo de explicação, algo extremamente coerente com a teoria."

    Não acho nada práticos e a "intenção" do discurso do analista não tem nada disso, mas não é meu objetivo aqui debater questões internas da psicanálise.


    "Tenho uma posição parecida com a sua: acho que a AC é interessante e inteligente, mas tem coisa MUITO melhor, que se apronfunda no que é especificamente humano."

    O que é "especificamente humano"? E por que esta se "aprofunda" nisso? E por que a AC não?


    "então não seja como um dos psicanalistas “atuais” seja um psicanalista freudiano, lacaniano ou freud-lacaniano diferente, rs."

    Meu problema não é apenas com Lacan, se fosse apenas Freud ainda assim seria ruim, no mínimo monstruosamente desatualizado.

    É um problema também ficar preso em Freud, quando este mesmo mudava suas concepções a cada dia. A última que ele teve antes de morrer dificilmente é a verdade última. Se o "aprimoramento" disso é o que os demais psicanalistas têm feito, eu rejeito com todas minhas forças. E aponto ares melhores: acredito que a análise do comportamento seja, em todos os aspectos, um aprimoramento - enorme - da psicanálise freudiana.

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  33. Fiz análise por 3 anos e posso dizer que de fato me fez "algum bem". Já havia questionado outras vezes a natureza dessa melhora e seu texto me fez pensar ainda mais.

    Mas o mais preocupante para mim foi ler as respostas dos que defendem a psicanálise, neste texto e principalmente na parte 1. Fico incomodado com a perspectiva de pessoas com essa mentalidade, com estreiteza intelectual a ponto de jorrarem ataques pessoais vazios com um ar de superioriedade inerete, serem analistas. Ou virem a ser. Ficaria extremamente incomodado de saber que meu analista, por exemplo, é alguém que age e defende seu fazer assim.

    Claro, você deu dolorosas cutucadas, mas a partír do que li aqui quase lhe dou razão de compará-los a crianças choronas.

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  34. muito bem Pedro Samapio , vamos detonar esses psicanalistas e tirar eles do pedestal que se colocam... Viva a ciencia, viva Skiner!

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  35. Oi, voltei. Vamos lá.

    “Ou seja, não apenas observo isso em psicanalistas como a própria teoria favorece isso e deveria ser reformulada.”

    Às veze acho que conhecemos não só psicanalistas completamente diferentes, mas psicanálises de planetas diferentes tb.
    Já tentei te apontar e depois explicar que a teoria não tem nada a ver nem favorece isso de “atribuirem esta coisa imutável ser algo danoso”, oq vc simplesmente considerou masturbação mental (resposta q eu tb poderia dar pra qq coisa).
    Você entende o que poderia ser uma intervenção somente pontual e uma intervenção estrutural advertido da lógica de como a coisa se organiza?


    “Meu problema não é apenas com Lacan, se fosse apenas Freud ainda assim seria ruim, no mínimo monstruosamente desatualizado.”

    Quando eu digo ‘psicanalistas atuais’ não me refiro a Lacan, mas aos supostos lacanianos (que não são todos iguais).


    “Estou ciente disso e nada disso escapa da minha crítica. Se escapa, por favor me aponte como, porque falhei em entender.”

    Que confusão é essa? Acabei de justificar que “Não é exclusivamente pela autoridade de Lacan”... ¬¬ trazendo exemplos... De autismo especificamente por causa do comentários de outros...... Foi isso.... ???!


    “Se eu não estou trazendo argumentos ou fontes para minha afirmação isso é sim um problema da minha crítica,”

    Na parte I, quando você falou de Lacan, é isso mesmo.


    “Até aqui vc não disse nada, já que é justamente o ponto que interroguei anteriormente. Mas daí vc continua:”

    Meu deus, isso foi uma introdução ao que eu ia dizer, AFF!
    Eu expliquei o que é “narcisismo”, e logo “economia narcísia” e daí “economia narcsísica do desejo”.


    “O que também não quer dizer lhufas.”

    Quer sim! O que é que eu posso responder a esse remungo à toa? Só: “Não é e pronto”... ¬¬

    O que não significa nada é você simplemente dizer que não tem significado. Talvez você não tenha entendido lhufas do objetivo clínico da psicanálise.


    “Viu?”
    Vi você forçando a barra, rs. Isso que coloquei tem significado e só acredito até agora porque faz sentido pra mim: corresponde de várias maneiras ao que vejo. E prefiro psicanálise por OUTROS motivos, não porque explicar melhor(??) ou pq dá pra entender mais rápido, ou pq é mais simples e direto, mas pelo direcionamento ético, o posicionamento que leva. Que não tem bu-lhufas a ver com oq vc diz aqui.


    “O que se extrai de produtivo tanto blablabla lacaniano (ou freudiano) são coisas simples, óbvias ululantes, que não justifica a adesão à psicanálise”

    Não sei se simples, mas muito mais do que complicam por aí. Acho que Lacan teve um certo motivo para complicar, uma ideologia, mas os psicanalistas de hoje acho q +-60% é papagaiada. E realmente, depois que você entende parece evidente, rsrs.


    “O que se extrai daí é apenas que a sinalização de punição inibe comportamentos (públicos e privados).”

    Não se reduz ao que você disse e nem se deduz isso. O que se extrai tem a ver com dizer qual é o significado do que as pessoas buscam (por exemplo, serem amadas e reconhecidas... .. .. ... pelo Outro idealizado), qual a lógica da motivação do comportamento dela. Sem falar no próprio direcionamento da intervenção (na relação do Sujeito com o Outro). Associar isso a punição é muito pobre, chega a ser sem sentido, forçassão de barra, novamente. Tlvz EXPLIQUE a lógica de pq algumas coisas funcionam como punições, mas isso não é o importante.
    Tvlz sua intrasigência venha da negação exagerada de que cada teoria possa ter seu vocabulário próprio - ex: punição=behaviorismo.


    “E ainda assim a idéia de estrutura não tem valia ALGUMA, já que podemos ainda descrever isso em cada pessoa e inclusive sermos mais justos com cada sujeito.””

    Já respondi a isso uma duas vezes explicando que não é para tanto. Mas ok, só espero que isso não conste no seu livro em momento nenhum, afs.

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  36. “Só um comentário nada a ver: sempre que alguém fala, ao invés de "travessia da fantasia", "travessia do fantasma" (que é na verdade por que em espanhol é essa a tradução), eu lembro de "Ghost" e o cara atravessando o fantasma.”

    Tanto faz, “travessia da fantasia” me lembra mais “A Viagem de Chihiro” ou coisa perecida.


    "Não acho nada práticos e a "intenção" do discurso do analista não tem nada disso, mas não é meu objetivo aqui debater questões internas da psicanálise.”

    Acho que tem sim, o Saber no discurso do analista está no lugar da verdade (vocabulário da psicanálise, novamente), algo que está longe da postura de objetivar fornecer explicações.
    Não sei o que você está chamando de prático, vejo que algumas pessoas confundem praticidade com simplicidade e ser direto, e logo, aparentemente mais claro. Para mim, a praticidade está no compromisso do desenvolvimento teórico com sua eficácia (clínica ou seja qual for) e não simplesmente na didática (acho que o segundo Wittgenstein concordaria mais ou menos com isso). Isso quer dizer que as pessoas por ingenuidade e sedução TB podem escolher uma coisa “mais operacionalizada”, já que maioria não tem noção do que se trata o conhecimento.


    “O que é "especificamente humano"? E por que esta se "aprofunda" nisso? E por que a AC não?”

    A unidade de análise da psicanálise seria o significante, algo que não se aplica aos animais. A psicanálise tem uma série de postulados que não se aplica de modo algum aos animais, diferente da AC, talvez por ter uma unidade mais geral, “comportamento”, mas acredito que se aprofundando, e há espaço para isso nela, a AC se direcionaria à psicanalise. Operacionalizando (isso deve sair tosco): o repertório comportamental humano, sejam quais forem as contigências, têm uma lógica própria que os outros animais não têm. Isso é consequência do estado desamparado que ele vem ao mundo, tanto no registro biológico quanto na relação com o outro/ambiente - ou o Outro – ao qual o registro biológico é receptivo e depende em vários aspectos. (Gozei, rs...)
    O vocabulário do behaviorismo não permite retirar apenas da sua lógica interna objetivos que a psicanálise essencialmente propõe. É isso que me seduz, rs.
    Mas tudo isso é só SUPOSIÇÃO à toa - nada que eu considere seriamente - não queria desviar do motivo central que me fez postar aqui.

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  37. Confesso que deixei para responder seu comentário depois e esqueci dele. O que foi uma pena.

    Muito bom, tudo que escreveu acima. Concordo com QUASE tudo, acho sua análise perspicaz e suas considerações (QUASE todas. rs) sobre o behaviorismo também estão corretas.

    Minha correção seria apenas uma e acredito que seja crucial: o behaviorismo permite sim, trabalhar, debater, focar-se em, todas essas coisas que valoriza, lhe deslumbram e atraem. O mais legal é justamente como ela é teoria que unifica sob um modelo explicativo tanto o comportamento do homem como um animal como os demais, quanto aquilo que o torna essencialmente humano.

    Cada vez mais tenho a convicção que poderia se apaixonar perdidamente pela análise do comportamento, mas já está me incomodando essa postura quase evangelista minha. rs

    Fica a sugestão. Na pior das hipóteses terá coisas interessantes para debater, maneiras diferentes de analisar.

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  38. Olá Pedro, conheci seu blog por esses dias,e torço para que você nunca pare de escrever, esse blog é de fato um bem público! Ótimo texto, que nos provoca a uma reflexão bastante pertinente!

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  39. Cheguei à mesma conclusão de que a psicanálise dá margem ou até mesmo empurra o analista a fazer cagada. Ainda quando fui procurar mais sobre isso, achei esse relato aqui que é muito didático para explicar esse assunto.

    http://www.psyciencia.com/2013/08/15/efectos-iatrogenicos-del-psicoanalisis-en-el-trastorno-obsesivo-compulsivo/

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  40. A única coisa que tenho a falar: "O texto só mostra que você não entende nada de Psicanálise. Por favor, vá estudar antes de sair postando asneiras na internet. Esse é o perigo da Web, qualquer um pode posta a merda que quiser."

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  41. Na primeira parte de seu texto vc falou que era um estudioso e apoiador da psicanálise. Disse que todos acharam que vc iria seguir essa abordagem, quando se formasse e surpreendente vc não seguiu. Acha que o que fez mudar de ideia foi o fato de vc ter que atender?
    Ou dúvida, vc já fez psicanálise? Não é um ataque é só p saber... Pq como vc é profissional da área seu texto é de alguém que vai trabalhar com isso, mas minha leitura é de uma paciente (uma analisanda).

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    Respostas
    1. Olá, Juliana!

      Fiz análise sim - e foi muito bom!
      Não duvido dos potenciais benefícios da psicanálise e já pude senti-los na pele. Com um bom profissional, então, pode ser excelente.

      Eu mudei porque conclui que já existiam abordagens que permitiam conseguir o que a psicanálise propõem e ainda por cima avançaram mais nos estudos sobre o que tem se mostrado benéfico para ajudar as pessoas, com excelentes pesquisas a respeito. Avançaram a compreensão dos processos psicológicos e o tratamento, enquanto a psicanálise parou no tempo graças a seu hermetismo.

      Abraço,
      Pedro

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